O Breu
Nos tempos de hoje são muitas as pessoas que ouvem falar dos fornos de breu, mas são poucas aquelas que chegaram a conhecer esta "industria", ganha-pão para muitas famílias do Covão do Lobo à ainda poucos anos atrás.
O breu é uma resina produzida através da queima de pedaços de madeira, mais conhecidos por cavacos.
A produção do breu realizava-se através de vários poços em barro que serviam para queimar os cavacos em altas temperaturas, poços fabricados com um duplo fundo por onde escorria a resina dos cavacos, "o tal breu".
Depois de aproveitado para recipientes, o breu era vendido em líquido nas feiras do distrito de Aveiro, como por exemplo na feira dos treze de Vista Alegre e também por várias povoações mais longínquas.
O breu também podia ser vendido em blocos.
O roubo das carroças
Em tempos idos os jovens rapazes de Covão do Lobo juntavam-se na madrugada do Dia de Carnaval para apoquentarem os mais velhos com várias tiranias e sacanices onde se incluía a troca de animais domésticos e o “roubo” de carroças. Pela noite dentro, os grupos dividiam-se, para darem início às típicas malandrices. As galinhas e os porcos, os burros e as mulas trocavam o seu habitual dormitório pelo do colega mais próximo e as então muitas carroças eram atabalhoadamente expostas no largo principal da aldeia. Actualmente, embora algumas raparigas e rapazes mais afoitos tentem manter viva esta tradição, o desaparecimento gradual das velhinhas carroças de tracção animal e a falta de compreensão de alguns populares perante as brincadeiras de Carnaval têm vindo a contribuir para a morte de mais este costume.
Matança do Porco
o dia era sempre de festa e de azáfama sempre que havia matança do porco. Cada lavrador marcava o dia para a matança, convidava o matador, os familiares e amigos para ajudar, logo a partir do amanhecer. O porco era “chamuscado” com a caruma de pinheiro em chama para lhe queimar o pêlo, começando a tarefa de lhe raspar a pele com a telha de barro de canudo (meia cana), facas e outros objectos. Depois de bem queimado, retirados os cascos das patas e cortadas as orelhas, seguiu-se a lavagem da pele, até adquirir uma tonalidade acastanhada. Os ajudantes da matança começavam a desmanchar a carcaça do porco … uma operação que requer muita experiência, para não desperdiçar nenhum pedaço. Há que separar cada parte do porco segundo a finalidade tradicional: os presuntos, as costeletas, os lombos, os lombinhos e o “toucinho para as favas”, assim como a selecção da carne destinada aos enchidos, tarefa em que se empenha “toda a família associativa” e mesmo os curiosos convidados para a matança.
Entretanto, na cozinha era a azáfama da “matança”, além dos preparativos do almoço.
Esta prática - matar o porco de forma tradicional, para a alimentação familiar - vai muito mais além do simples acto de matar um animal para consumo caseiro, uma vez que à volta deste acontecimento, a família e amigos reuniam-se num espírito de entreajuda e de festa. A matança de um porco, significa sempre o sentar à volta da mesa, num puro convívio social.
O porco à porca
Era comum os habitantes de Covão do Lobo terem animais com o objectivo de rentabilizar algum dinheiro, sendo comum aqui na terra a criação de leitão, que depois de vendidos, havia a necessidade de reproduzir. Para tal, existiam os "barrascos" (porcos reprodutores) para o efeito e daí vem... "Lá vai o porco à porca".
Tradicionais Lenços
Estes lenços na cabeça, tinham uma dupla função, uma vez que eram usados em todas as estações do não, quer fosse para proteger do sol, quer do frio. Eram em norma escuros e muito usados na vida do campo.
Os cavaqueiros "O PÊZ"
Os cavaqueiros eram pessoas humildes, educadas e muito trabalhadores, iam para o pinhal e alguns levavam um pequeno saco de retalhos, com broa e uma cebola ou um dente de alho, quando não tinham uma patanisca de bacalhau cru que era tão pequena que o sal não lhes fazia mal.
Trabalhavam muitas horas seguidas, as vezes com más condições climáticas, os machados eram muito pesados, porque eram feitos especialmente para eles. Eram homens que raramente adoeciam, porque não comiam em excesso, eram musculados de peles morenas castigadas pelo tempo.
O que tinham melhor era ar que respiravam, ar puro e saudável, a água bebiam baixados sobre a nascente. Tinham por hábito beber aguardente, (era só para aquecer).
Mas também lhes dava mais energia, quando se juntavam aos domingos com o seu fato domingueiro, alguns usavam uma pena de pavão na fita do chapéu, ou um pequeno ramo de manjerico, ou limonête ou um simples malmequer.
Bebiam uns tintos com os amigos, em sinal de amizade e respeito uns pelos outros.
Aos Domingos é que eles tinham mais tempo para contar as suas histórias, como não havia televisão, as pessoas davam mais atenção umas as outras, eles contavam as suas histórias e experiências de vida.
Normalmente quando estavam na taberna, a pessoa que os atendia ao escutar tantas vezes acabava por se envolver, também vivia um pouco com eles as suas tristezas ou as suas alegrias, ficará para sempre na memória de quem conviveu de perto com eles, a saudade e a lembrança das suas histórias e da sua imagem.
LENDAS
Lenda da Fonte da Moura
"Noutros tempos, havia mouros na nossa terra, lá mais para o sul. Aqui, já mandava o rei de Leão. Alguns mouros, porém, amigos dos cristãos e da terra em que nasceram e continuavam a cultivar, ficaram. Eram chamados "mudejares". Muitos deles até iam aderindo à nossa religião, misturando línguas, usos e costumes.
O mesmo, tinham feito os cristãos que haviam ficado nas terras conquistadas pelos mouros, onde eram conhecidos por "moçárabes" Eram os "mudejares" os que mais sofriam, quando os mouros do sul por cá faziam as suas "razias", tentando recuperar estas terras. Não perdoavam os seus irmãos de raça, que tinham ficado como amigos dos cristãos.
É neste ambiente que se passam os factos narrados na lenda e que são os seguintes: Havia uma moira muito bonita chamada Alzira (al-Zahira, em árabe) que estava noiva do dono destas terras, um cavaleiro cristão chamado D. Gião. Quando os mouros da "razia" chegam, as primeiras vítimas foram logo os pais de Alzira.
Ela, porém consegui fugir para o mato, tentando esconder-se numa mina ou nascente de água, que sabia haver além de um ribeiro. D.Gião, chefe dos Cristãos derrotados, pede ajuda ao seu amigo D.Senão, que governava estas terras em nome do rei. Vencidos e de novos expulsos os mouros, D.Gião e os amigos procuram Alzira por todos os recantos onde se poderia ter metido.
Na mina, onde diziam ter-se escondido, apenas se descobriu a água que dela nascia. Era deliciosa, pura e cristalina. E ficou com o nome de Fonte da Moura".
A Freguesia conta com a actividade do rancho Folclórico de Fonte de Angeão, que tem a importante missão de recuperar, preservar e divulgar a cultura rural ancestral do local, através da recriação da matança do porco, das vindimas, desfolhadas, entre outras apresentações folclóricas.
Lenda da Chuva
Esta freguesia tem uma lenda a tentar justificar o seu nome. Trata-se da "lenda da chuva".
"Um dia, depois de uma grande seca, a gentes resolveram pedir a chuva ao Senhor que tudo manda.
Foram pelas terras fora, em procissão, rezando e cantando as ladaínhas com muita devoção.
Às tantas, o céu começa a escurecer e, ao longe, já se ouvem trovões. E a desejada chuva, grossa como nunca se viu, começou.
Mas ninguém arredou pé; antes ergueram os braços para o céu, agradecendo Deus a bendita chuvinha.
E ela era tanta e tão grossa, que houve quem visse os anjos lá nas nuvens despejar os cântaros de água cá para baixo.
E, no sítio onde estavam, forma-se uma grande enxurrada e, mais tarde, até lá nasceu uma fonte.
Lenda de S. Salvador do Covão do Lobo
De acordo com a lenda, certo dia, um frade, ao que diziam, a caminho de Santiago de Compostela, passou por estes lugares. Contava pernoitar em Sorães, mas para os lados de Covão do Lobo foi perseguido por um lobo. A sua sorte foi encontrar uma árvore à qual subiu sem hesitar. O lobo, faminto, é que não o deixou descer. O frade bem gritava por socorro, mas ninguém lhe acudiu. Conseguindo acomodar-se o melhor que pôde num dos ramos, lá dormitou e rezou ao Santo Salvador da sua maior devoção, que lhe acudisse. Ao despontar da aurora, despertou com os latidos de cães que se aproximavam. Foi a sua salvação, pois os cães, açulados pelo dono, lá conseguiram afugentar o lobo, que se escapou por uma ravina ou covão, nas margens escarpadas de um rio que por aí corria. O caçador protegeu o frade, pedindo-lhe que ficasse por ali e construísse uma ermida. O frade assim fez, pondo como orago da capela o seu protector S. Salvador. Atendendo ao covão onde o lobo se meteu, chamou-lhe então S. Salvador do Covão do Lobo.