A união de freguesias foi constituída em 2013, no âmbito de uma reforma administrativa nacional, pela agregação das antigas freguesias de Fonte de Angeão e Covão do Lobo.
Diário da República, 1.ª Série, n.º 19, Lei n.º 11-A/2013 de 28 de janeiro (Reorganização administrativa do território das freguesias). Acedido a 2 de fevereiro de 2013.
De acordo com a mesma fonte, nos Assentos Paroquiais de Covão do Lobo, Freguesia da qual se desmembrou, em 1713, surgem formas como “fontajião, Angiam, Fonte Damgiam, Fontinjão”, entre tantas outras.
A personalidade dos angeaneses foi marcada quando a população, juntamente com a de outras localidades da região, se dirigiram ao rei, D. João VI, para pedir providências contra as “tomadias” ou ocupação abusiva dos seus baldios por gente estranha. Por provisão de 1824, o rei ordenou que essas terras fossem restituídas aos seus usufrutuários, sendo as Câmaras suas mandatárias. Na época a vida associativa era representada pelos “róis” ou Mútuas de gado e pela “guarda rural” que vigiava os campos e suas culturas, mediante uma avença anual. No inicio do século XX, surge então um Sindicato Agrícola, embora de curta duração.
O ensino das letras estava ao encargo dos sacerdotes da paróquia ou de alguns curiosos que, muitas vezes, cobravam propinas. A primeira Escola Primária em a ser criada, apenas em 1917, em frente a Igreja Matriz, servindo os três lugares da actual Freguesia. D. Maria dos Anjos Praia era a professora de então que ganhou tanta fama ao ponto de, para além das crianças de Fonte de Angeão, Parada de Cima e Gândara, também as de Calvão e ponte de Vagos frequentarem esta escola de apenas uma sala.
Tal situação precária foi modificada, por administração do já referido Dr. Rocha que, aproveitando o plano escolar dos Centenários do Estado Novo, viu serem construídas mais escolas com varias salas, em Fonte de Angeão, Parada e Gândara.
Por outro lado, a assistência médica, tanto humana como pecuária, era exercida por curandeiro e alveitares. No princípio do século XX, já começaram a surgir os primeiros médicos que, em dias certos, davam as suas consultas remunerados por avenças. Não obstante, foi durante a administração do Dr. Rocha que a assistência médica passou a ser regular, aquando da criação do Centro Médico da casa do Povo.
As transacções comerciais eram levadas a efeito, anteriormente, por ambulantes, e mais recentemente por “vendas”, lojas, tabernas e feiras. Em Fonte de Angeão, o comércio estava centralizado no largo da Capela, nos dias 7 e 27 de cada mês, enquanto, em parada de Cima, a feira realizava-se, nos dias 6 e 16.
Culturalmente a Freguesia encontrava-se representada pela Banda de Musica de Parada, formada por dissidentes da que existia em Covão do Lobo, mas teve uma vida efémera. Por outro lado, a casa da Juventude, com finalidade religiosa, foi a mãe de outras colectividades como J.A.C, os grupos folclóricos e os grupos de escuteiros.
A Paróquia foi criada em 1945, tendo como pároco, o Sr. Padre Manuel dos Santos, mas os seus templos religiosos são bem mais antigos. Estes tiveram o seu inicio, no século XVIII, com a pequena ermida de são Vicente, em Fonte de Angeão. Mais tarde, a partir do século XIX, surgem então, a Igreja Matriz.
A Freguesia Civil, por seu turno, foi criada em 27 de Julho de 1965.
A rede viária começou no princípio do século XX, quando Manuel Francisco catarino foi presidente da Câmara, o primeiro angeanenses a exercer tal cargo. Porém, os melhoramentos viários foram continuados, mais tarde durante a gestão do já referido Dr. João Augusto Rocha.
A multissecular Freguesia de Covão do Lobo, cujo primitivo nome era São Salvador do Covão do Lobo ou Salvador do Mundo do Covão do Lobo como consta noutros documentos, nasceu muito antes de 1663, encravada entre as mais antigas freguesias de Febres, Covões, Sôsa, Vagos e Mira.
Já foi uma das maiores freguesias do concelho de Vagos, constituída pelos lugares de Igreja Velha, Chousa, Lugar, Rua da Capela, Fonte do Rei, Casta, Moita, Cabeços, Moitinha, Juncal, Fonte do Grou, Carvalho, Parada de Cima, Carvalhal, Fonte de Angeão, Gândara, Rines, Andal, Estrada, Sorens, Fonte da Costa, Grou, Pardeiros, Santa Catarina, Canas, Mesas e Vale.
De dimensões consideráveis foi, ao longo dos tempos, sofrendo sucessivos cerceamentos : em 1965 deu-se o desmembramento de Fonte de Angeão, com os lugares de Parada de Cima, Carvalhal, Fonte de Angeão, Gandara e Rines; em 1985 o da freguesia de Santa Catarina com os lugares de Andal, Estrada, Soraens, Fonte da Costa, Grou, Condes, Pardeiros, Santa Catarina, Canas e Mesas, assim que o Vale anexado à Ponte de Vagos.
Nos primeiros tempos foi esta freguesia pertencente ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, depois ao concelho de Mira do qual foi desanexado por decreto de 6 de Novembro de 1836. Contudo em 31 de Dezembro de 1853 é novamente incorporado em Mira, até ao dia 6 de Abril de 1856, data em que passa em definitivo para o concelho de Vagos.
Em 1861 é pedida autorização à Câmara para funcionamento de uma cadeira de Ensino Primário, invocando-se como razão a existência de 520 fogos na freguesia, de 450 a 500 crianças com idade até 14 anos e esta poder servir os lugares de Rio Tinto e Tabuaço, separados da freguesia de Sôsa por um ribeiro, e os lugares de Palhal, Ponte de Vagos e Calvão da freguesia de Vagos e Sanguinheira da freguesia de Febres, por ser melhor caminho e mais perto.
Só em 1883 é nomeada professora interna para a cadeira, tendo-se arrendado uma casa para habitação da professora e sala de aulas, situada em Fonte do Rei, a poente da fonte.
Mais tarde, funcionou em edifício situado a nascente do cruzeiro do norte da Igreja.
Em 1915 é proposto ao Governo a edificação da escola da Rua da Capela. É pedido, neste mesmo ano, um subsídio ao Ministério para a sua construção.
Em 1916 já se encontra em construção e em 1918 conclui-se, atingindo o seu custo mil e trezentos mil reis.
Origem do apelido Broa Negra
Dedicados essencialmente à actividade agrícola em terrenos arenosos e pouco férteis, os habitantes de Covão do Lobo entregaram-se, em busca da sobrevivência, à apanha de moliço na Ria de Aveiro, ao comércio e à indústria do pez. Mas terá sido esta última actividade que lhe granjeou a fama de «Terra da Broa Negra», pois era do forno do breu que nascia o meio de sustento de homens, mulheres e crianças. O breu não parece ser mais que o produto extraído da resina e que era utilizado em tarefas tão diversas como a calafetagem dos barcos e a envolvência de redes de pesca na tentativa de evitar a deterioração da sensível matéria que as compunha, sisal. Mas para aqueles que passavam horas sofridas na odisseia da sua produção, o breu é muito mais que isso.
Expressões que remanescem na memória da linguagem popular como “noites de breu”, “escuro como breu” ou “almas mais pretas que o breu”, dão à cor preta que caracterizava o breu, um significado bem mais profundo e intenso que aquele que nos é possível abarcar pelos sentidos.
Na verdade, se preto era o breu por ser essa a cor que resultava da sua produção, com mais verdade preto era o breu pelas horas de trabalho cruel que exigia, pelo choro dos filhos com fome que cortava o ar enquanto os pais eram detidos por terem recolhido uns “cepos resinosos que iam aparecendo pelo caminho, que sabíamos que tinham dono, mas que éramos obrigados a esquecer por necessidade de sobrevivência”. A técnica apurava-se pelo modo como se colocava a madeira e à quantidade de resina que ela continha, e o breu resultava desse líquido (resina), já de cor alterada pela combustão e múltiplas impurezas, que não ardia e escorria por cavacos até um recipiente alojado no fundo do forno. Testemunha silenciosa destas vivências é o único forno do breu restante nesta freguesia, feito como os demais que o tempo e o esquecimento se encarregaram de fazer desaparecer, de cacos e barro, barro este utilizado para tapar o seu topo antes de se permitir que o calor das chamas começasse a trabalhar a madeira.
Dora e Dina RAMOS (2006)
in Jornal Terras de Vagos (Agosto de 1986)
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